Programa

 Laboratório de Ecdótica (LABEC)

Instituição: UFF

Coordenação Geral:

Ceila Maria Ferreira (Setor de Crítica Textual do Departamento de Ciências da Linguagem do Instituto de Letras da UFF)

Apresentação do Projeto:

A criação do Laboratório de Ecdótica é uma proposta de organização de pesquisadores em um espaço supra-departamental destinado à realização de edições com estudos críticos que possam contemplar vários aspectos do texto, principalmente os estudos filológicos. Por estudos filológicos podem ser entendidos todos os esforços para se fixar, interpretar, comentar, divulgar, ou seja, aproximar um texto, seja ele literário ou não, de seu autor ou autora e de seus leitores. Também é uma das maneiras mais eficientes de possibilitar o maior entendimento da palavra escrita em um determinado espaço temporal por um público receptor localizado em outro espaço de tempo. Os estudos filológicos, em particular a Crítica Textual, têm como objetivo, conforme Aurélio Roncaglia, restituir um texto à sua forma genuína, eliminando todas as alterações que esse sofreu ao longo de sua transmissão através das edições, sejam elas manuscritas ou impressas, e dos anos. Portanto, os estudos filológicos abarcam grande número de conhecimentos voltados para uma maior compreensão de um texto. São eles: literários; linguísticos; históricos; paleográficos; relativos à pesquisa sobre divulgação e transmissão de livros e manuscritos, gênese textual, etc. Contudo, por Ecdótica devem ser entendidos todos os aspectos da técnica editorial, ou seja, desde os estudos, as metodologias filológicas até a preparação de um texto para a publicação.

O Laboratório de Ecdótica fará estudos filológicos, pesquisas sobre metodologias e teorias próprias à Crítica Textual, além de também produzi-las e preparará edições de obras que tenham como corpora os seguintes tipos de textos literários e não literários: inéditos (manuscritos, datiloscritos, impressos); éditos esgotados há mais de dez anos e dificilmente encontráveis em livrarias ou bibliotecas públicas ou que tiveram problemas graves de edição e inéditos em língua portuguesa ou cujas traduções sejam, elas próprias, temas de estudos e/ou assaz restritos pela temporalidade. Fará também traduções de textos em língua portuguesa, já devidamente fixados por edições críticas, para línguas estrangeiras.

As edições realizadas pelo Laboratório de Ecdótica poderão ser: críticas; crítico-genéticas; diplomáticas; diplomático-interpretativas ou semi-diplomáticas; comentadas e traduções comentadas.

Por edição crítica, muito resumidamente, entende-se a divulgação de um texto que se aproxima ao máximo daquele que seu autor ou autora considerou como definitivo. Chama-se o produto de uma edição crítica de texto crítico ou apurado, pois ele é reconstruído a partir do recolhimento e da comparação de toda a tradição direta (manuscrita, impressa) de uma determinada obra. Através dessa comparação e por meio de estudos históricos, literários, linguísticos e mais os que forem necessários, o filólogo escolhe uma das edições impressas ou manuscritas como base de estruturação do texto crítico. Há várias linhas e normas para se realizar uma edição crítica. Cabe ao pesquisador ou editor crítico saber escolher a que melhor responde aos desafios e problemas propostos pelo texto que ele deseja editar criticamente. Porém, o filólogo ou crítico textual não pode deixar de informar ao leitor os procedimentos que foram por ele utilizados na preparação da edição crítica. Ainda a respeito de edições críticas, elas apresentam, juntamente com o texto crítico, um aparato de variantes (em que podem ser surpreendidas as transformações que o texto sofreu através de sucessivas publicações impressas e/ou transmissões manuscritas), muitas vezes, um aparato de comentários, em que são apresentados os resultados da exegese do pormenor. Algumas vezes, apresenta também glossários; ilustrações; cópia de documentos; fotografias; índices e o que for preciso para dar uma visão, a mais aproximada possível, da época em que o texto, objeto da edição, foi produzido.

Uma edição crítico-genética deve apresentar, além dos capítulos e procedimentos referentes a uma edição crítica, um aparato genético que “pretende dar conta da cronologia e da topografia (na página) dos gestos do autor […]”, ou seja, uma edição que tenta surpreender e ordenar, conforme a interpretação dada pelo editor dos manuscritos autógrafos recolhidos, as etapas materiais do processo de criação literária de um determinado escritor.

Uma edição diplomática é a reprodução impressa fiel de uma obra manuscrita ou impressa. Tal edição pode vir acompanhada do fac-símile do manuscrito. Já a edição diplomático-interpretativa ou semi-diplomática reproduz o manuscrito ou a edição impressa, mas desfaz as abreviaturas; separa as palavras que foram grafadas juntas, etc.

A edição comentada deve ser baseada em um texto fidedigno e trazer comentários sobre passagens obscuras, termos técnicos e a respeito de tudo o mais que for um obstáculo ao bom entendimento da obra objeto de publicação. Nesse tipo de edição é feita, assim como na edição crítica, a exegese do pormenor.

Uma tradução comentada tem por objetivo transpor uma obra de uma língua para outra e apresentar comentários sobre passagens de difícil compreensão por parte de seus prováveis leitores, assim como de trechos em que o tradutor teve maior dificuldade de verter para o idioma desejado.

Além das edições, produção de teorias, metodologias e estudos sobre as já existentes, o Laboratório de Ecdótica terá como escopo a formação de pesquisadores na área da Crítica Textual e Ecdótica. Por essa razão, espera-se contar sempre com integrantes da equipe que façam parte do corpo discente de graduação ou pós-graduação da UFF, tais como mestrandos, doutorandos e alunos de graduação envolvidos com projetos de Iniciação Científica que tenham por objeto o texto, sua transmissão, interpretação e apuramento.

Justificativa:

Os estudos filológicos são especialmente importantes para a boa saúde de grande parte, por exemplo, dos estudos linguísticos (os de linguística histórica, por exemplo), e para a totalidade dos estudos literários, pois estes se assentam na palavra de um escritor ou escritora que deve ser respeitada, preservada, interpretada e aqueles, na fidedignidade das fontes consultadas.

No que diz respeito à história das línguas, um considerável número de pesquisas que trata desse assunto está calcado em textos escritos que foram transmitidos por manuscritos ou por edições impressas. Algumas vezes, esses manuscritos e edições apresentam rasuras, omissões, erros de leitura, gralhas etc., que impedem o conhecimento da mensagem produzida pelo escritor. Se um pesquisador utilizar, como fonte de investigação, um texto em que ocorra alguns desses erros, enganos ou omissões, o resultado de sua pesquisa fatalmente estará comprometido e fadado ao erro. Também, os estudos e pesquisas na área da literatura requerem textos fidedignos. Por exemplo: como afirmar que um certo estilo de época (o Romantismo, o Arcadismo, o Modernismo) tem tais e tais características, se não se tem a garantia de que o corpus de pesquisa levantado pelo estudioso do assunto é fiel testemunho da palavra dos autores que produziram suas obras sob a influência de uma determinada ars poetica hegemônica em uma dada época?

Em termos de literatura brasileira e portuguesa, sabe-se que várias edições de autores nacionais e lusitanos não veiculam textos autênticos. Daí, a necessidade da criação de equipes como a da Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós, coordenada pelo Professor Doutor Carlos Reis; o Grupo de Trabalho para Estudo do Espólio e Edição da Obra Completa de Fernando Pessoa, coordenado pelo Professor Doutor Ivo Castro, em Portugal, e, no Brasil, da realização de edições críticas como as Obras de Casimiro de Abreu por Sousa da Silveira.

Em relação à literatura latino-americana e caribenha, a Série Archives vem suprir essa lacuna e difundir a importância da realização de edições críticas, como também chamar atenção para a necessidade de se dar maior incremento à área da Filologia.

Atualmente, em círculos acadêmicos europeus há a consciência de que para se fazer crítica literária séria e estudos linguísticos consistentes baseados em textos é necessário que eles estejam calcados em edições fidedignas, de preferência críticas. Não adianta nada fazer afirmações sobre fatos da língua ou história da literatura tendo por base edições corrompidas, com alterações feitas pelo editor ou mesmo pelo tipógrafo ou pelo revisor. Faz-se, portanto, cada vez mais necessária a produção de edições críticas de textos, como também a realização de edições, que apesar de não serem críticas, sejam fiéis à palavra de seu autor ou autora.

O Brasil também está passando por um processo de conscientização a respeito da importância da qualidade e natureza das edições para as pesquisas em Linguística Histórica, Literatura, ou, simplesmente, para que os leitores tenham acesso a textos autênticos.

O Laboratório de Ecdótica aqui proposto é resultado desse processo de conscientização e vem atender às expectativas já expressas por docentes e discentes da UFF: poder contar com edições fidedignas, que contenham estudos filológicos; poder resgatar textos de literatura portuguesa, brasileira e de outras literaturas há muito esquecidos e não reeditados; traduzir obras inéditas em português ou que tenham problemas graves em sua tradução, mas que são fundamentais para o estudo das literaturas em língua portuguesa e das literaturas estrangeiras, além de contribuírem para o entendimento de suas culturas; editar fontes fidedignas para os estudos na área da História; produzir novas teorias e metodologias filológicas e formar novos pesquisadores.

Com o Laboratório de Ecdótica, acervos literários e não-literários serão detalhadamente estudados, investigados e servirão como fontes para novas teorias, metodologias e pesquisas em várias áreas do conhecimento. Ou seja, o LABEC, com sua ação, ajudará a preservar e renovar a tradição dos estudos filológicos no Instituto de Letras da UFF.

Objetivos:

Assegurar a transmissão de textos autênticos; fortalecer a tradição dos estudos filológicos; contribuir para a formação de novos pesquisadores no campo da Filologia; resgatar textos esquecidos pelo passar do tempo e pela ação de edições espúrias; tornar disponíveis em língua portuguesa, através de edições críticas, diplomáticas, semi-diplomáticas, crítico-genéticas ou de texto crítico em língua portuguesa, textos escritos em línguas estrangeiras; fazer traduções de textos em língua portuguesa para línguas estrangeiras a partir de edições fidedignas; criar condições para a recepção de acervos de escritores pela UFF; trabalhar com acervos de escritores; desenvolver pesquisas e produzir novas teorias e metodologias na área da Crítica Textual, além de promover e apoiar eventos relacionados com o campo de atuação do Laboratório de Ecdótica (LABEC) e divulgar os seus projetos através de uma página na Internet constantemente atualizada.

Recursos Humanos:

O LABEC contará com quatro categorias de integrantes, a saber: pesquisadores, pesquisadores associados, discentes e um técnico-administrativo.

Os pesquisadores devem todos pertencer ao quadro docente (permanente ou temporário) da UFF.

Os discentes podem ser mestrandos, doutorandos ou alunos de graduação inseridos em Projeto de Iniciação Científica. Poderão integrar o LABEC quaisquer discentes que mantiverem vínculo acadêmico com algum pesquisador ou pesquisador associado envolvido com o Laboratório.

Os discentes que num primeiro momento participarão do LABEC serão os monitores de Crítica Textual e alunos selecionados através de uma entrevista. Tais discentes apresentarão trabalhos nas Jornadas de Iniciação à Pesquisa da UFF.

Acerca dos pesquisadores associados, o LABEC estará aberto àqueles que desejarem desenvolver pesquisas e trabalhos relacionados com os listados nos itens Apresentação do Projeto e Objetivos.

Estrutura Organizacional:

O LABEC contará com a Coordenação Geral da Professora Doutora Ceila Maria Ferreira.

A coordenadora geral do Programa irá zelar para que o Laboratório de Ecdótica atinja as suas metas e alcance os seus objetivos. Cuidará para que os Projetos propostos estejam de acordo com o perfil pretendido para o Laboratório: um lugar em que haja pesquisa, prestação de serviços e ensino na área da Crítica Textual, área esta reconhecidamente interdisciplinar.

A coordenadora ficará responsável pelos Projetos de sua autoria, assim como pela constituição das equipes que irão desenvolvê-los.

Os projetos desenvolvidos pelo LABEC terão coordenadores específicos que não serão necessariamente a coordenadora geral do Programa. Os coordenadores específicos apresentarão suas propostas de Projetos às coordenadoras do LABEC, que deverão aprová-las ou não, sendo também necessária a sua aprovação nos Departamentos de origem. Contudo, a formação das equipes de trabalho de cada projeto ficará sob a responsabilidade de cada coordenador específico do Projeto proposto ou em desenvolvimento.

Os subprojetos desenvolvidos pelos membros do LABEC terão um coordenador específico para cada um deles. Os coordenadores dos projetos deverão ser professores pesquisadores ou associados do LABEC.

Os discentes que participarão em projetos no LABEC serão orientados por professores pesquisadores do Laboratório. Aqueles que participarem em projetos desenvolvidos por professores associados ao Laboratório também poderão vincular-se (como aluno-pesquisador) ao Laboratório.

O LABEC também terá um Conselho Consultivo. Tal Conselho será formado por professores-pesquisadores com ampla experiência na área de edição de textos.

Sobre a página na Internet, as Coordenadoras do Laboratório ficarão responsáveis pela atualização das informações veiculadas na Rede.

Os e-mails enviados para o Laboratório serão respondidos pela Coordenação.

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